domingo, 2 de outubro de 2011

Desmontando mais o estudo da APREN

O estudo da APREN, efectuado pela Roland Berger, a que nos referimos inicialmente aqui, e no qual metemos o primeiro ferro aqui, tem muitos mais motivos de crítica. O estudo soma valores que lhe são convenientes, e subtrai outros, fazendo o inverso com a concorrência. E esconde muitos outros.

O custo das linhas de alta tensão é um desses exemplos. Elas tiveram que ser implementadas pela REN, para retirar do topo dos montes essa energia verde, poluindo ainda mais as bonitas paisagens das serras portuguesas. Mas para os habitantes locais, alguns deles mesmo sem electricidade, os benefícios foram apenas a poluição visual e sonora... Quem pagou isso? Foram os promotores eólicos? Não! Foram os contribuintes e consumidores... A APREN descontou esse custo? Pois claro que não!

Quanto custam essas linhas? A REN, no seu Plano de Investimentos 2006-2011, descrevia a tarefa de forma simples (todos os realces da minha responsabilidade):

A produção eólica é aquela que irá provocar maior impacto na RNT, não só atendendo ao seu significativo montante absoluto, mas também porque a maior parte do seu potencial se situa em regiões montanhosas do interior com consumos pouco significativos e caracterizadas por redes desenvolvidas para os meios de produção até então existentes. Por conseguinte, está-se perante um alargamento de excesso de produção que é necessário transportar para os centros de consumo.

E quanto é que custa ligar um Parque eolicozinho à rede? São segredos bem guardados, porque não é suposto o Zé Povinho saber. Comecei por um exemplo do Norte do País, daqueles bem perto das grandes cidades, como advoga a APREN e a Roland Berger. No Estudo de Impacte Ambiental da Linha Parque Eólico Alto Minho I-Pedralva a 150kV, podemos ver que os 52 Km de extensão da linha de Alta Tensão, com 125 postes, custaria cerca de 8 milhões de euros, só para chegar à subestação mais próxima! Subestação essa também nova, por certamente mais uns milhões... E esta é apenas uma linha para servir um dos muitos parques eólicos deste País!

Não foi preciso procurar muito para obter outras verdades nesta história deprimente. Da mesma REN, numa apresentação na Argentina, temos muitas coisas engraçadas no domínio eólico. Para este post destaco o seguinte extracto, que exemplifica como foi necessário esturricar ainda mais dinheiro nisto das eólicas:

Os novos centros produtores eólicos e hídricos previstos situam-se, na sua larga maioria, no interior norte e centro do País, em zonas montanhosas onde os consumos eléctricos são pouco significativos e onde a rede de transporte de electricidade não se encontra muito desenvolvida. Tornava-se pois imperativo escoar os elevados montantes das zonas interiores excedentárias em geração, para as zonas de maior consumo situadas no litoral. A rede de transporte existente não se mostrava minimamente adequada para fazer face às novas exigências pelo que foi necessário estabelecer uma estratégia para o seu reforço.

Mais abaixo, no mesmo documento, mais algum detalhe:

As zonas interiores do País onde se situa o potencial eólico tinham uma fraca estrutura de rede de MAT. Os únicos níveis de tensão aí disponíveis eram os 150 kV ou os 220 kV, não se mostrando suficientes para receber e escoar os novos montantes de potência. A decisão de reforço da rede ou se centrava no reforço destes níveis de tensão ou na opção por um escalão de tensão mais elevado. A escolha recaiu sobre esta última hipótese, por ser mais flexível e potenciada para fazer face às incertezas ainda existentes de localização e de montantes reais a serem instalados.

Ainda não estão convencidos da falsidade dos argumentos da APREN e Roland Berger? Pode-se argumentar que as barragens também estão longe, e isso é verdade! E as outras formas de energia? As restantes estão genericamente próximas dos grandes consumidores. No primeiro documento da REN acima, a resposta é clara, neste caso para o exemplo da cogeração:

Para além destes factores é ainda de assinalar que, na larga maioria das vezes, a cogeração se situa em zonas urbanas e/ou industrializadas onde a RNT tem, normalmente, uma estrutura bastante desenvolvida e, por conseguinte, com menores dificuldades de recepção por parte das redes de transporte e distribuição.